Daniel Machado Nacle, 28 anos, de São Paulo, competindo
na categoria até 125kg pela equipe Marcelo Aló
(Fórmula Academia), emocionou o público com
sua disputadíssima vitória sobre o argentino
Leonardo Cavaglia. A história de Daniel com os esportes
em geral é antiga e aqui ele nos conta um pouco sobre
ela.
(Marília – Portal do Ferro) – Essa é a pergunta
base dos campeões: gostaria que você falasse
um pouco sobre a sua história com o powerlifting
e outros esportes: quando começou, o que mais o atraiu
no powerlifting, que outros esportes praticou.
(Daniel) - Sempre pratiquei esportes. Comecei pelo tênis.
Joguei muitos anos, até conhecer a musculação.
Com o tempo fui me motivando e a idéia de competir
começou a surgir. Naquela época, meus ídolos
eram do culturismo, como: Dorian Yates, Paul Dillet, e Kevin
Levrone, entre outros. Competi no culturismo em 2002. Depois,
com uma importante influencia do meu amigo e técnico
Marcelo Aló comecei a conhecer e me interessar pelo
Powerlifting. De lá para cá tenho me apaixonado
cada vez mais por esse esporte. Esses são meus títulos:
Campeão Paulista de Estreantes 2004; 3 vezes Vice-campeão
Paulista 2004, 2005 e 2006; Vice-campeão da Copa
São Paulo 2005; Campeão Brasileiro 2006; Campeão
Sulamericano 2006. Realizei minhas melhores marcas quando
me consagrei campeão sulamericano: Agachamento: 335,0
kg; Supino: 227,5 kg; Terra: 302,5 kg; Total: 865,0 kg.
(M/PF) – Daniel, você é professor numa academia
prestigiada e de classe alta na cidade de São Paulo.
Gostaria de saber como é a percepção
dos seus colegas e alunos sobre o powerlifting. Também
gostaria que você comentasse como combina sua vida
profissional com sua carreira de atleta.
(Daniel) - Infelizmente, mesmo entre as pessoas de classe
alta , o powerlifting não é muito popular.
Muitos ainda confundem com o Levantamento de Peso (arranco
e arremesso). Meus amigos e alunos admiram e respeitam nosso
esporte, pois eles presenciam no dia a dia todo nosso esforço
e resultados. Não tenho problemas em conciliar minha
vida de atleta com a profissional, trabalho com musculação
na própria academia onde treino, meus alunos sempre
me apóiam e me ajudam quando preciso.
(M/PF) – Como você vê a evolução
do powerlifting no Brasil? Se você quiser, comente
as organizações do esporte aqui (as federações),
a relação com a IPF, e as questões
regionais (concentração em alguns estados,
disseminação, etc.), de patrocínio
e de apoio governamental.
(Daniel) - Estou no powerlifting desde de 2004. Desde então,
tenho visto grandes avanços na organização
das competições, na divulgação
e em termos de patrocínio (bolsa atleta).
(M/PF) – Vamos falar um pouco sobre treino. Como é
basicamente a estrutura do treino no powerlifting? Como
você vê as diferenças entre as estratégias
ou “escolas” que você conhece? Como é
o seu treino?
(Daniel) -
Dia 1 – Agachamento Pesado – assistência
Dia 2 – Supino Pesado - assistência
Dia 3 – off
Dia 4 – Terra Pesado - assistência
Dia 5 – Agachamento e Supino leve
O treino no powerlifting é baseado em maior volume
e menor intensidade em off – season e ao contrário
no pré-contest, mas o treino pode variar de atleta
para atleta.Não tenho conhecimento profundo sobre
as escolas de treino no powerlifting, para estruturar meu
treino conto com o conhecimento do meu técnico Marcelo
Aló.
(M/PF) – Você pertence a uma equipe com vários
títulos aqui no Brasil. Gostaria de falar um pouco
sobre a equipe do Marcelo Aló? Falando nele, como
você vê o papel do técnico na preparação
do atleta de powerlifting, a importância da presença
dele nos campeonatos, etc?
(Daniel) - A Equipe Marcelo Aló é extensão
da minha família considero todos meus irmãos.
Quero agradecer a todos eles e ao Coxa, pois ninguém
ganha um título sozinho.
(M/PF) – Como foi a disputa com o Leonardo Cavaglia no
Sul-americano? Dos bastidores, todos nós acompanhávamos
ponto a ponto, foi muito apertada: como VOCÊ experimentou
essa tensão toda?
(Daniel) - Já conhecia as ultimas marcas de Cavaglia,
e sabia que a disputa seria acirrada. Me esforcei e melhorei
muito meu Terra, pois previa que iria precisar dele. Estava
muito concentrado. Era a primeira vez que estava representando
meu país, e isso me motivou muito. A cada pedida,
percebi que o Cavaglia estava muito forte, e estive confiante
que eu poderia virar o jogo. Naquele momento constatei que
o powerlifting é um esporte de equipe. Quando fui
para o ultimo Terra sabia que aquele era o momento mais
importante da minha vida, e tinha que dar sangue para concretiza-lo.
Quando bati o peso no chão olhei o placar e vi já
duas luzes brancas, e fui comemorar com todos que invadiram
o tablado.
(M/PF) – Você é um atleta de um esporte
de força e também um educador físico.
Poderia comentar um pouco sobre a formação
dos educadores físicos em treinamento de força
(técnica, aspectos fisiológicos, biomecânica,
etc.) no Brasil? Como foi a sua? Falta alguma coisa? Você
sugere alguma coisa ?
(Daniel) - Acho que nas faculdades em nosso país
esse assunto esta engatinhando, meu aprendizado foi mais
significativo na prática, e acredito que intercâmbio
internacional, juntamente com palestras de técnicos
dos países com tradição , seria mais
proveitoso.
(M/PF) – Dieta e suplementação: como é
sua estratégia dietética? Você se preocupa
com composição corporal? Se preocupa com o
limite da categoria? Que suplementos você usa? Quais
gostaria de usar? Quais você acha mais importantes
nos esportes de força?
(Daniel) - Minha dieta é hipercalórica na
maioria das vezes, não conto as Kcals. Tenho idéia
da quantidade média que consumo: por volta de 4500
a 5000 Kcals. Divididas de 4 à 6 refeições.
Consumo de 30 à 50 gramas de proteína por
refeição. Como suplementação
utilizo Whey Protein. Procuro aumentar meu peso sempre em
consequencia do aumento da massa muscular, mas não
me incomodo com o aumento da minha “cintura”.Tenho
sempre como referencia o peso limite da minha categoria.
(M/PF)
– Uma questão controversa: esteróides. O que
você pensa sobre o uso de esteróides entre
atletas e não-atletas? O que você pensa sobre
as exigências do Comitê Olímpico quanto
ao anti-doping?
(Daniel) - No meu ponto de vista, qualquer atleta de qualquer
modalidade, ao decidir utilizar esteróides anabólicos
deve estar ciente dos efeitos colaterais e das punições,
e questões éticas. Aí a decisão
é de cada um.
(M/PF)
– Você gostaria de comentar a relação
entre o powerlifting, os demais esportes de força
e o fisiculturismo? É comum atletas “migrarem”
de um para o outro? O que eles têm em comum?
(Daniel) - É comum sim, atletas migrarem de um esporte
para outro. Eu mesmo antes do powerlifting competi no culturismo.
Conheço casos de atletas do levantamento de peso,
básico , luta de braço e strongman, que trocaram
de um para outro e vice-versa.
(M/PF)
– Quais são seus próximos objetivos no powerlifting?
Como está se preparando para eles?
(Daniel) - Meu objetivo para 2007 é me classificar
para o Pan-americano e tentar bater o recorde brasileiro
de total na minha categoria. Treinando muito e seguindo
a risca as periodizações.