LEVANTAMENTO BÁSICO OU POWERLIFTING

ENTREVISTAS

Entrevista com Mendinho sobre a estréia de sua filha, Larissa.

Por Marília Coutinho

(Marília – Portal do Ferro) –Mendinho, como foi criar sua filha no meio dos pesos? Quando você identificou nela o amor e talento pelo esporte? Como se sentiu com isso?
(Mendinho) - Foi uma relação meio incondicional o fato dela sempre estar comigo na academia, desde criança eu tive que ser  “mãe” e pai da Lála (assim como eu a chamo) então a Lála sempre esteve comigo em meu local de trabalho, onde tinham varias modalidades esportivas. Sempre vendo aquela criança de 2 aninhos já olhando tudo dentro da academia com brilho nos olhos, mexendo e querendo fazer tudo, foi quando comecei a inserir várias modalidades esportivas com ela, tais como ginástica olímpica, capoeira, judô, natação, enfim, modalidades muito importantes no desenvolvimento motor de uma criança melhorando demais a capacidade motora no esporte que a Lála pratica hoje.

(M/PF) –Quando você decidiu que era hora de começar a treiná-la competitivamente?
(Mendinho) - Eu sempre a deixei a vontade em relação a escolha de um esporte competitivo, mas sem dúvida nenhuma minha única filha seguir o esporte que pratico, seria tudo de bom pra mim, e sempre que eu a via “brincando” com os pesos e barras na academia,-  o fato dela saber movimentos e técnicas que muitos atletas ainda não detêm -, isto me fez começar vê-la como uma nova atleta no Powerlifting. Lógico que respeitando a vontade dela em competir, mas tudo isto foi se ajustando quando percebíamos que estava sendo recíproca nossas intenções em relação ao Powerlifting.

(M/PF) –Alguns profissionais da velha-guarda ainda acreditam que não se deve fazer treinamento de força com crianças e adolescentes. O que você tem a dizer a eles?
(Mendinho) - Este mito que  treinamento de força com adolescentes não devem ser feito já caiu por terra. Hoje é muito bem claro graças à ciência que crianças podem executar uma periodização em treinamento de força, sei e acredito que atletas de auto rendimento, crianças inclusive, não chegarão ao topo sem uma especificidade em qualquer modalidade esportiva, sendo força ou não.

(M/PF) – Como você equilibra, com sua filha, a dedicação ao esporte e aos estudos?
(Mendinho) - Primeiramente minha filha, isto não abro mão nunca, ela é a única coisa que tenho, é prioridade em tudo que faço, como minha nova atleta na equipe ARREBENTAÇÃO TEAM ela está sendo nossa prioridade na equipe, sou chato como treinador, não dou mole, e por incrível que pareça separo sempre o pai do treinador. Agora, sobre o futuro da Lála, já estamos nos programando para que ela possa seguir sem dúvidas sua carreira profissional de forma prioritária nesta fase que ela irá enfrentar daqui as uns três ou quatro anos quando entrar na universidade, mas de momento a Lála é uma ótima aluna e dedicada aos estudos.

(M/PF) –Como é ser pai e treinador ao mesmo tempo?
(Mendinho) - Às vezes sei que pego pesado na hora do treinamento com ela, sou exigente e disciplinador, cara emburrada, expressões de dores, ficar resmungando e cansaço não me fazem dar mole aos treinamentos. Acredito que a Lála quando me vê como pai nos treinamentos deve ficar muito decepcionada comigo, porque não dou mole mesmo, mas houve uma situação que eu deixei tudo isto de lado, foi quando ela não conseguiu fazer um movimento no treinamento depois de um período sem treinar por estar de férias na casa de um primo, então eu logo já disse no meio da academia:
“ É isto aí que dá deixar de treinar pra ficar jogando vídeo game na casa das pessoas, você acha que irá ser uma Yzaugalova ( atleta russa ) deixando de treinar pra jogar vídeo game?”. E quando vejo, ela estava chorando, ou seja, sei que peguei pesado neste momento, pois ela ainda é uma criança e necessita destas situações lúdicas em sua vida , daí veio o sentimento de pai e me arrependi na hora de ter pegado tão pesado assim.

(M/PF) – Como é o treinamento dela?
(Mendinho) - Ela segue uma periodização como todos da equipe, o que a diferencia de todos os outros atletas é que sempre tento convencê-la que também é preciso fazer outras atividades físicas de forma lúdica, isto é muito importante em adolescentes nesta idade da Lála.

(M/PF) – Fale um pouco sobre o pedido de “presente de Natal” da Lalá (aquela história que você me contou sobre ela pedir um macaquinho enquanto outras meninas pedem bonecas)
(Mendinho) - Isto sempre me vem na mente quando eu a olho como criança, foi no final do ano passado quando conversávamos sobre presentes de Natal. Eu tinha acabado de chegar do campeonato mundial de powerlifting na Áustria logo no final de ano, e o que eu menos queria conversar depois de um ano inteiro de treinamento era sobre powerlifting, falávamos de tudo, amigos, presentes, viagem, e quando falávamos sobre presentes ela me perguntou: “Papai que você vai me dar de presente de Natal?”. Eu logo pedi que ela escolhesse seu presente, e sem entender ate hoje, ela me olhou nos olhos e me pede um Suit Squat, ou seja, um macaquinho de agachamento da marca Titan. Não sabía se me felicitaria pela fome que aquela criança tinha em competir ou me chatearia por uma menina de 14 anos deixar de querer ganhar bonecas ou qualquer presentes do gênero, foi engraçado!

(M/PF) – Como você vê o futuro da Lalá no esporte, nos estudos e na vida em geral?
(Mendinho) - Por partes, acredito que a Lála será um ícone nesta modalidade, mas temos somente mais uns quatro anos, após isso ela terá que se dedicar mais aos estudos ao entrar na universidade, então nestes quatro anos que ela ainda tem, acredito que ela será “top” entre as prés juvenis, ela pensa muito além do esporte querendo fazer faculdade logo, mas com certeza o Powerlifting está no sangue dela e é a segunda prioridade na vida, e na vida em geral. A Lála é uma criança que devido as circunstancias que vivemos quando ela ainda era bebê, ela foi criada no meio de adultos o que fez ela amadurecer demais, e hoje ela é muito além de uma adolescente e sim uma pessoa que tem um grande carinho pelos amigos, muito solidária e inteligente, acredito que como pessoa a Lála sempre será esta adorável pessoa que temos em nosso meio.

(M/PF) –Você acha que pode haver um excesso de pressão e expectativa sobre ela pela estréia tão bem sucedida e tão jovem? Como você pretende lidar com isso?
(Mendinho) - Eu vinha percebendo que antes já do Paulista de Powerlifting 2008, as pessoas vinham já cobrando quebra de recorde e título logo de cara, mas eu a deixei bem a vontade para eu ter noção do que seria a estréia dela no esporte por si só, e ela se saiu muito bem. O que eu venho fazendo é inserir outras atividades e assuntos na vida dela para que não sature do esporte, isto é muito importante para que ela continue tendo vontade sempre de competir enquanto puder.

(M/PF) –Como foi o esforço para evitar explodir de orgulho (só para relaxar... heheh)?
(Mendinho) - A estréia da Lála pra mim foi uma das maiores emoções que vivi em toda minha vida. O que vou dizer aqui agora ninguém ainda sabia, mas quando eu a preparei colocando faixa, suit e cinto para ir na barra e escutei o narrador dizendo:
“BARRA PRONTA PARA KELLEN LARISSA”, eu não sabia se eu chorava, se eu sorria por ter chegado a hora que sempre esperei em toda minha vida, enfim, eu olhava pra aquela menina toda suada de tanta adrenalina colocando munhequeiras e todos dizendo palavras de incentivo que nenhum atleta escuta na hora, simultaneamente também lembrava daquela menininha saindo do ventre de sua mãe chorando com 3,445kg e 51 centímetros, foi um espaço muito curto entre estas duas situações em minha mente durante a competição, que me fez ver um filme de tudo que já vivi com esta menina, mas enfim, foi muito bom tudo isto pra mim.
E quando anunciaram 200kg de agachamento pra ela, daí vocês já imaginam como fiquei!

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